Quando o caminhoneiro Salim Awadh viajou para Mombasa, Quênia, em 2021, para um curso sobre direção eficiente em termos de combustível, ele já transportava cargas pela África Oriental há quase duas décadas.
Ainda assim, o curso se revelaria uma descoberta para o homem de 53 anos, que frequentemente viaja pelo Corredor do Norte, uma congestionada série de rodovias que atravessa seis países.
Em Mombasa, um instrutor mostrou a Awadh como economizar combustível mantendo uma velocidade constante, usando a marcha mais alta possível e evitando acelerações desnecessárias.
Hoje, Awadh diz que usa cerca de 20% menos combustível do que antes, economizando dinheiro e reduzindo as emissões do escapamento de seu caminhão de 22 rodas.
“Nossas habilidades de direção estão melhorando continuamente, o que aumenta nossa renda”, diz Awadh.
O workshop de direção em que Awadh esteve presente fez parte de um esforço maior, respaldado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Coalizão Clima e Ar Limpo, apoiada pelo PNUMA, para melhorar a eficiência de combustível ao longo do Corredor do Norte, uma das rotas de transporte mais movimentadas da África. Observadores dizem que essas reduções são cruciais para reduzir a poluição do ar e as emissões de gases de efeito estufa – e, por fim, abrir caminho para o transporte elétrico com emissão zero.
“Transformando o Corredor do Norte, podemos mostrar que o transporte na África não precisa ser feito às custas do meio ambiente e da saúde humana”, diz Sheila Aggarwal-Khan, diretora da Divisão de Economia do PNUMA. “Mais do que isso, este trabalho pode servir como um passo para um futuro de mobilidade limpa, uma transição que o mundo deve fazer para combater as crescentes crises de mudança climática e poluição”.
Ligação vital
O Corredor do Norte é um conjunto de estradas, ferrovias, oleodutos e hidrovias interiores que ligam os países, predominantemente sem litoral, de Uganda, Ruanda, Burundi, Sudão do Sul e República Democrática do Congo ao porto queniano de Mombasa. O transporte rodoviário representa a maior parte do tráfego. Entre 2.000 e 3.000 caminhões percorrem a rota diariamente, transportando de tudo, de alimentos a eletrodomésticos.
Isso fez o corredor se tornar um hotspot para poluição do ar, diz o motorista de caminhão Moses Radier, que transporta carga entre Ruanda e Quênia. Muitos motoristas, diz ele, sofrem de infecções respiratórias e são atormentados por tosses, que muitas vezes são agravadas pela poeira que sobe das estradas não pavimentadas.
As emissões dos escapamentos também adoecem as pessoas que vivem ao longo do corredor, que passa por centenas de vilarejos e cidades em seu percurso sinuoso de Kisangani, na República Democrática do Congo, até Mombasa.
Para combater os efeitos da poluição, a Autoridade de Coordenação dos Transportes e do Trânsito do Corredor Norte - um órgão intergovernamental - lançou duas estratégias chamadas de “frete verde” com o apoio do PNUMA e da Coalizão Clima e Ar Limpo. A mais recente foi endossada por ministros nacionais em junho. Seu objetivo é reduzir as emissões de três poluentes comuns - material particulado, carbono negro e óxido de nitrogênio - em 12% ainda nesta década. Esses poluentes têm sido associados a doenças cardíacas, derrames, asma e vários outros problemas de saúde.
A estratégia também visa reduzir as emissões de dióxido de carbono, um gás de efeito estufa que contribui para as mudanças climáticas, em 10%. Em 2018, os veículos ao longo do corredor produziram mais de 1,7 milhão de toneladas de dióxido de carbono.
“Alcançar os objetivos da Estratégia de Frete Verde 2030 não apenas se alinha com as metas do Acordo de Paris, mas também garante que o sistema de frete do corredor permaneça robusto e adaptável diante de um planeta em mudança”, diz Omae Nyarandi, secretário-executivo da Autoridade de Coordenação dos Transportes e do Trânsito do Corredor Norte.
Globalmente, o setor de transportes é responsável por 15% das emissões de dióxido de carbono, um potente gás de efeito estufa que está impulsionando as mudanças climáticas. As emissões do setor estão crescendo mais rapidamente do que qualquer outro setor e devem dobrar até 2050, em grande parte devido ao aumento nos países do Sul Global.
Controlar as emissões do transporte é considerado fundamental para combater o rápido aumento das temperaturas globais, que no ano passado bateram recordes. A transição para veículos elétricos, a promoção de um maior uso de transportes públicos e o melhor planejamento das cidades para reduzir os deslocamentos, entre outras políticas, poderiam reduzir as emissões ligadas ao transporte em mais de 50%, aponta o PNUMA.
Recomendações de Políticas
A estratégia de frete verde do Corredor Norte recomenda que os países introduzam padrões de eficiência de combustível, desincentivem a importação de caminhões mais antigos e ineficientes, invistam em meios de transporte mais limpos, como ferrovias, explorem veículos elétricos e aproveitem a tecnologia para melhorar a eficiência de combustível dos caminhões.
A iniciativa também exige que 2 mil motoristas sejam treinados para transportar cargas com mais eficiência. Uma análise constatou que um caminhoneiro de longa distância que dirigisse 2.5 mil quilômetros por mês poderia economizar até 30 mil xelins quenianos (US$ 230) em custos de combustível se dirigisse com mais eficiência.
“Isso melhorará financeiramente a vida dos motoristas, permitindo que eles sustentem melhor suas famílias”, diz Newton Wang'oo, diretor da One-to-One Logistics Kenya, que fornece soluções de transporte ao longo do corredor.
Em junho de 2024, os ministros dos seis países do corredor pediram que a implementação da estratégia de 2030 fosse acelerada. Enquanto isso, as nações pretendem reforçar 2 mil quilômetros de estradas contra os impactos das mudanças climáticas, incluindo inundações.
Os países ao longo do corredor se comprometeram a reduzir as emissões de gases de efeito estufa no setor de transporte, incluindo no transporte de cargas, por meio de suas contribuições nacionalmente determinadas, uma série de compromissos relacionados ao clima. Uma nova rodada dessas contribuições está prevista para 2025.
“Esses compromissos devem se traduzir em leis e regulamentações robustas que mudarão os incentivos para o setor de transportes”, diz Aggarwal-Khan.
Fazer o Corredor Norte ficar mais verde, acrescenta ela, deve integrar um esforço maior para combater as mudanças climáticas e reduzir a poluição do ar, que está relacionada a 1,1 milhão de mortes anuais na África.
Os motoristas de caminhão, como Moses Radier, têm grandes esperanças no projeto. “Os proprietários de transportes economizarão dinheiro, a poluição diminuirá, nossa saúde melhorará e teremos um ambiente de trabalho mais seguro”, diz ele.
O Dia Internacional do Ar Limpo para um Céu Azul, realizado anualmente no dia 7 de setembro e promovido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), conscientiza sobre a importância do ar limpo para a saúde, produtividade, economia e meio ambiente. O tema deste ano, “Invista em #ArLimpoAgora”, destaca os benefícios econômicos, ambientais e de saúde do investimento em ar limpo.
Parceria global por Combustíveis e Veículos Limpos do PNUMA
O programa colabora com entidades públicas e privadas para apoiar a transição para o transporte rodoviário de baixo carbono. Para isso, defende padrões de emissão de veículos e incentiva a adoção de tecnologias mais limpas. De 25 a 26 de março de 2024, o PNUMA e o Ministério de Obras e Transportes de Uganda sediaram um workshop de dois dias para divulgar a Estratégia de Frete Verde do Corredor Norte 2030 e explorar oportunidades para um frete mais verde.
A Solução Setorial para a Crise Climática
O PNUMA está na linha de frente do apoio à meta do Acordo de Paris de manter o aumento da temperatura global bem abaixo de 2°C e almejando 1,5°C, em comparação com os níveis pré-industriais. Para isso, o PNUMA desenvolveu a Solução Setorial, um roteiro para reduzir as emissões em todos os setores, de acordo com os compromissos do Acordo de Paris e em busca da estabilidade climática. Os setores identificados são: sistemas de energia, indústria, AFOLU (Agricultura, Florestas e Outros Usos do Solo), transporte e edifícios.